quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Branca de Neve

Talvez esse seja mais um conto de fadas, sobre Branca de Neve ou qualquer outra princesa.
Era uma vez, num reino muito, muito distante, uma princesa que vivia à espera de um grande amor.
Desejava ardentemente que ele fosse belo e viesse montado em um cavalo branco.
Mas pode acontecer do príncipe esperado não ser tão belo em conteúdo quanto seria na embalagem.
E assim a princesa se desiludiu e se desiludiu e se desiludiu.
Estaria o verdadeiro príncipe da princesa (aquele de conteúdo nobre) escondido sob a embalagem de um ogro?
Mas, assim, aproximaríamos da história de Shrek...
Mas deixemos de fábulas.
Vamos tentar ancorar em um porto mais próximo da realidade, ainda que não necessariamente real.
Talvez pudéssemos chamar de um porto virtual...
Vamos lá.
A areia do tempo continua a correr, mandando aviso que um dia a mais é um dia a menos.
Seguimos em busca de planos, sonhos e imagens que se exibem em nosso horizonte, mas nem sempre conseguimos trazer as promessas para o chão da vida real.
Castelos foram construídos em terrenos firmes. Pelo menos assim imaginávamos. Mas bastaram algumas intempéries, que nem chegaram a ser tempestades, para desmoronar tijolos, telhas e objetos instalados com tanto esmero, atenção, dedicação e carinho.
Tudo acabou por ruir.
Desesperamo-nos.
Uma, duas, dez, várias vezes.
Imaginamos em inúmeras situações que seria ali o fim.
Desejamos que tudo mais acabasse ali mesmo, naquele exato instante.
Pronto. Fechamos os olhos e esperamos o final.
Mas, de fato, não tinha acabado, como nunca acabou.
Em meio a tantos altos e baixos dessa montanha-russa de relacionamentos e sentimentos que é a vida, nunca paramos para pensar naquilo que nos aproximava inexplicavelmente.
É tanto tempo que nem sabemos explicar bem quando foi a gênese.
Quantos anos?
Não sabemos.
E como começou ao certo?
Também não conseguimos capturar essa resposta.
O certo é que, mesmo de longe e sem jamais termos nos tocado, a gente acabou se tocando e se ligando.
Inexplicável.
Inevitável.
Palavras, músicas e sensações.
Dias e pessoas passaram por nós.
Mas você e eu acabamos ficando um para o outro.
Interessante que nos momentos de desacerto, de insegurança e quando escurecia, acabávamos por pensar um no outro, ainda que não chegássemos a falar nisso mutuamente.
- Ele me entende. Ele me lê.
- Ela me entende. Ela me lê.
Era mais ou menos isso que ocorria. Era mais ou menos isso que se passava.
E alguma coisa lá dentro acabava por nos acalmar e confortar.
E, assim, a gente segue.
E o tempo voa. Voou, como você mesma disse hoje.
Mas, ainda que o relógio não tenha dó e trabalhe para colocar mais distância entre nós, certos acordes de certa canção que já não é tão jovem assim continuam trazendo você para mim... passe o tempo que passar.
"Não quero mais ficar pensando em você..."
E ela talvez toque agora mesmo, mentalmente, repetindo a melodia conhecida.
Depois de tanto tempo passei aqui para escrever. Para lhe escrever.
Pode significar algo ou não.
Pode ser realidade ou ficção.
Talvez seja apenas um sonho dentro do sonho.
Talvez não.
Ninguém mais precisa entender, desde que a gente entenda e se entenda.
Seja lá onde estiver nesse momento, não se aflija, menina, sempre estarei com você.
E que isso tenha algum valor de fato.
Respire e sorria, há tanta vida lá fora.
Há coisas belas para se ver.
Sempre.
Aqui, voltamos à questão do belo e à questão da princesa em busca do príncipe.
Afinal, o belo é belo por si só pelo que se mostra ao se ver?
Ou o belo é de fato belo quando se descobre o que de fato é a pessoa por dentro?
Tempo para pensar...
A princesa, com o tempo, acabou descobrindo que o que é belo e agradável ao olhar nem sempre é aquilo que a toca de fato em essência.
E o que fará a princesa?
A maçã foi mordida e ela está adormecida.
E que aquele que for capaz de beijá-la, tocá-la em essência e retirá-la desse torpor, apareça algum dia.
E que, no momento em que abrir seus olhos, a princesa possa enxergar que aquilo que de fato vale a pena e faz sentido, está muito além da aparência.
Acorde, princesa!