segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Páginas


Arranco as páginas do meu passado como arranco as folhas de um caderno velho.
Retiro aquilo que não me interessa, que não me fez bem, amasso e jogo no lixo.
Tento colocar no meio disso as mágoas, tristezas e decepções.
Levanto a cabeça e tento olhar para o futuro.
E pode ser que no futuro eu reencontre o passado.
Os trilhos dessa estrada, que um dia se distanciaram, podem voltar a se aproximar.
Sigo em frente sem tentar entender os motivos das atitudes do mundo.
Digo mais uma vez para mim mesmo que não esperarei nada mais do próximo.
Afinal, não esperando, a gente tem menos chance de se decepcionar.
Vou embora.
Não sei se volto.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Abrigo


Caminhava o viajante. Passos lentos. Um pé de cada vez. Trazia na bagagem, num saco às costas, desânimo, tristeza e desilusão. A principal companheira de viagem era a solidão.
Trazia a testa arranhada e os joelhos calejados por causa de tantos tombos tomados naquela estrada acidentada.
A roupa? Tinha-a esfarrapada e suja das tantas vezes que sacudira a poeira após se levantar.
Seguia lentamente, mas sempre em frente. Ora era castigado pelo sol em brasa. Ora era fustigado pelo vento cortante da madrugada. Ora era machucado pela chuva gelada.
Lá adiante, uma encruzilhada. Num dos caminhos possíveis avistou uma construção e uma mulher à porta. Para lá, rumou. Ao longe, mulher de cabelos pretos e blusa branca. De perto, olhos de Capitu, sorriso brincando no canto dos lábios e mãos bem-feitas.
Com ela, falou.
"Cansado por demais estou. Abrigo, dar-me-ia?", indagou.
Dela, a voz? Música para os ouvidos. Mas vibrou, cheia de avisos.
"Dar-te-ei. Todavia, até quando não sei. A casa, minha apenas é. E tão somente como abrigo temporário lhe servirá"
Opção outra para ele havia? Até que sim. Entretanto, encantado como estava, a voz como da sereia o canto, soou.
Ali ficou.
Trocou a roupa, curou os arranhões e vestiu nova face.
Ali não houve sol que o castigasse, vento que o fustigasse ou chuva que o machucasse.
Abrigou-se. Chegou por fim a esquecer da bagagem que atirara a um canto qualquer do pátio.
O tempo voou. Preferiria ele que parado houvesse.
Mas, maldita, a ampulheta nunca dá trégua.
De repente, não mais do que de repente, o viajante às pressas foi acordado.
Sacudia-o a mulher. De um sonho, o arrancou.
Olhos frios e duros, qual mar sem ressaca, e lábios sem sorriso, nas belas mãos trazia ela a trouxa.
"Toma. Suas coisas, pega. Parte. Chegaste sua hora. Vá embora!"
Surpreendido como foi não teve tempo para perguntar. Mas, adiantar não iria. Resposta qualquer teria.
Sacola de novo às costas, com sua bagagem eventual, viajante no caminho o pé botou.
Seu rumo tomou.
Sem abrigo de novo ficou.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Caminhos


Na vida, há momento certo para tudo.
Momento para dar o primeiro passo.
Momento para seguir em frente.
Momento para parar.
Há também aquele momento para ficar parado, sentado à beira do caminho?
E olha que nem todos fazem isso para descansar ou para pensar no que passou e no que virá.
Em muitos momentos permanecemos sentados por falta de opção, sem saber o que fazer...
Devemos nos levantar, fazer meia-volta e buscar algum outro rumo que ficou lá atrás, em alguma encruzilhada?
Devemos seguir adiante no mesmo caminho?
Incertezas.
E as respostas voam tão alto e velozes que sequer deixam sombras por onde passam.

"Só você não vê que eu
Não posso mais
Ficar aqui sozinho
Esperando a vida inteira
Por você
Sentado à beira do caminho...

Preciso acabar logo com isso
Preciso lembrar que eu existo
Que eu existo, que eu existo...


(Sentado à beira do caminho - Roberto Carlos)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

03:03


Queria alguma coisa inteligente e sensata para dizer após as 3 horas da madrugada de um dia 7 de setembro.
Mas pareço vazio.
Aliás, fazendo uma busca, não me vejo assim tão vazio.
Dentro do próprio ser encontro perguntas e mais perguntas em busca de respostas.
Mas não sei se essas perguntas ávidas conseguirão se acasalar com quaisquer respostas.
Quanto mais analiso, à luz racional e silenciosa da madrugada, menos consigo entender certas situações.
Se fosse um tabuleiro de jogo qualquer, as peças não estariam seguindo o roteiro permitido e planejado.
Elas teriam quebrado todas as regras e mergulhado no mais perfeito caos.
Não entendo.
E não entender sempre me deixou aflito.
E assim, alta madrugada, fico a encarar a aflição na tela brilhante do monitor.
Madrugadas podem ser boas conselheiras.
Mas essa madrugada consegue ser muda e irritantemente fria, apesar de todo o calor seco que sopra lá de fora.
A mente vagueia sem destino e vai encontrar, em pensamento, tanta gente que já dorme.
Gente bem próxima, gente bem distante, gente há muito quase esquecida, gente quase desconhecida.
Passado distante. Passado recente. Ontem, apenas, também.
Silêncio!
Até o tiquetaque do relógio de pulso consegue ser ouvido ao longe tamanho o vazio.
Cães não ladram.
Galos não cantam.
A cidade parece mergulhada em transe.
O tempo se arrasta sem pressa de trazer algum alívio aos perdidos na madrugada.
O sono daqui fugiu pela janela aberta e foi mergulhar em mentes menos despertas.
Acordado permaneço.
Acordado não há sonho.
Mas, paradoxo, acordado pode haver pesadelo.
Finalmente algum ruído mostra que o mundo não está paralisado.
O vento sopra nas folhas de alguma árvore.
E traz para dentro algo mais além de um calor descrente.
O vento refresca a pele.
Mas o interior ainda é incandescente em chama viva.

P.S. Apesar de não ser inverno e de não chover, a música pode até servir ao momento.

No inverno fica tarde mais cedo

"Escuridão
noite liquefeita
tudo toma forma
do corpo que se deita
na escuridão
escuridão
nenhum olhar aceita
tudo se transforma
numa cama desfeita
na escuridão
escuridão
hora da colheita
pra quem semeou vento
numa cama desfeita
na escuridão
um corpo que se deita
um corpo em tempestade
agora já é tarde
solidão
hora da colheita
pra quem semeou o vento
num corpo que se deita
na solidão
de uma cama desfeita
um corpo em tempestade
agora já é tarde
no inverno fica tarde mais cedo
só depois de perder você descobre que era um jogo
um jogo que não acaba nunca, nunca acaba empatado
se foi um jogo, você ganhou: eu perdi a direção
se foi um sonho, se foi o céu, eu não sei
eu que não sei perder, perdi o sono
na escuridão, na escuridão"


Engenheiros do Hawaii

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Tempo


Houve um tempo em que tudo era mais fácil.
Esse tempo passou.
Esse tempo acabou.
E, em muitos sentidos, fiquei parado no tempo.
E, em certo sentido, fico a esperar o tempo que não vai voltar.
Mas isso somente diz de um recorte de tempo.
Sobre o tempo de vida de um certo tempo.
É o nosso tempo com pessoas, lugares, situações...
Esse foi o tempo que findou, ruiu, esfumaçou.
Porque o verdadeiro tempo é mais amplo.
É o tempo que, para cada um de nós, não para.
Os grãos continuam a escoar pelo gargalo fino da ampulheta.
Afinal, a areia não pode parar de escorrer.
Chegará o momento em que será necessário (des)virar a ampulheta de ponta-cabeça (ou de cabeça pra ponta?).
E isso fará com que o tempo volte?
Não.
Ele continuará passando...
E, ainda que os grãos de areia sejam os mesmos e a ampulheta, também, nem tudo estará mais como antes.
E então chega um novo tempo.
Um novo tempo que também não para.
Segundo a segundo.
Minuto a minuto.
Hora a hora.
Dia. Semana. Mês. Ano. Década.
A século dificilmente alguém chegará.
Milênio? Jamais alcançará!
Chega o dia que a ampulheta quebra.
E a areia de cada ser em si deixa de escorrer.
E esse é sim o fim do tempo.
O fim do seu tempo.
E a areia vira pó.
Pó.
Só.

"Se eu ousar catar na superfície de qualquer manhã as palavras de um livro sem final! (...) Valeu a pena! Sou pescador de ilusões" (O Rappa)

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Vendaval


E setembro chegou nas asas de um pé-de-vento.
Ventania!
Vendaval!
Folhas e poeira a redemonhiar ao léu...
Isso setembro!
Venta, pode ventar!
Acha a chuva e traga ela de volta!
Porque já estamos secos de tanto esperar!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Arrotos de alegria


De fato não cai bem as figuras de melancólico e emburrado.
Ainda que as contradições nos levem todos a nuances como as tais e outras tantas, prefiro mesmo simplesmente a figura do palhaço despreocupado e brincalhão.
Já que este espaço é tão lido (será?!?) é melhor mesmo dar uma bicuda na dita melancolia.
Não vou prometer que ela voltará.
Afinal, madrugada a mais, madrugada a menos, ela pode me flagrar por aí e voltar a me abraçar.
Mas voltemos à alegria.
Ando precisando arrotar mais alegria e felicidade.
Ainda que seja mal-educado arrotar, é melhor que assim o faça.
Afinal, venho tendo mesmo muitos mais motivos para sorrir do que me entristecer.
(Abre parênteses: né? Sorrisos, passeios, almoços, ligações, viagens, manhãs, tardes, noites, etc, etc. Coisas que fazem a vida).
Pronto?
Melhor!
E que a noite se faça dia, ainda que mais tarde o dia vá se tornar noite.
Mas essa é uma outra história.

Emburrado


Ocorre que às vezes também posso ser um palhaço bravo, emburrado.
E às vezes é um burro que está amarrado com nó gódio.
Tal qual um palhaço que é contratado para uma festa e acaba sacaneado pelas crianças.
Depois de desamarrado o burro, a esse palhaço o que resta?
Vestir as luvas de choque e as flores esguichadeiras e sacanear todos os presentes.
De fato, prefiro o palhaço sacana.

Melancolia


Tenho andado preocupando pessoas próximas.
Minhas colegas me têm achado melancólico por demais.
Meus escritos não condizem com a minha imagem real.
A figura despreocupada e brincalhona externa contradiz com o que as palavras escritas denotam do que se passa no interior.
Mas a gente é mesmo uma contradição.
Como diria o mestre Raul, uma metamorfose ambulante.
O povo tem se mostrado tão atento às subidas e descidas e às curvas da estrada que já me sinto como um palhaço triste.
Um palhaço melancólico.
Seria possível fazer os outros rirem e ele próprio não conseguir por si mesmo?
O que será que será?

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sede


Os que se contentam com a superficialidade de um córrego raso não sabem o prazer que é o mergulho em um rio profundo.
Cada um tem a sua escolha.
E cada escolha traz um risco.
O rio pode ser mais perigoso.
Afinal o mergulho profundo pode não dar chance para volta.
Mas o córrego raso é superficial.
E essa superficialidade pode fazê-lo secar.
E antes morrer cheio por tanto beber do que de sede por não ter como saciar.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Frio


Amanheci com um gosto de passado na boca hoje.
Um gosto outrora doce que se torna amargo.
Lembraria o sabor quase esquecido de uma margarita?
Primeiro adocicada ao paladar para encerrar bem amarga?
Não sei ao certo.
Também não tenho memória para tanto.
O dia amanheceu frio.
Não tão cinzento como outros, mas bem frio para os padrões do Cerrado.
Acho que o frio não está fazendo tão bem a mim.
Tenho amanhecido meio frio e cinzento como o tempo.
Hoje pelo menos o sol resolveu aparecer.
Mas não ainda para mim.
Melancolia.
Essa vem sendo uma constante.
Engraçado que os dias que passam parecem estar fundidos numa só massa uniforme e disforme.
De tão rápido que passou, o tempo até parece ter parado.
Contradições.
A caminhar sobre o fino fio afiado de uma navalha é como me sinto.
O deslize fatal pode me atirar num abismo.
Teria fim?
Continuo a me equilibrar em frente sem saber o que me espera?
Ou me deixo cair no precipício sem também saber o destino?
Não sei.
De nada sei.
Não há nenhuma voz a me chamar.
Não há nenhum aroma a me atrair.
Não há nenhuma luz a me guiar.
Sigo às cegas tateando o inesperado.
O próximo passo?
Pode ser fatal.
Mas parar também não é a melhor escolha.
E assim sigo em frente.
Devagar e sempre.
Não posso ter pressa.
Até porque a pressa pode me atirar no abismo.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Territorialismo


As mulheres são seres territorialistas.
Saem a marcar nossas vidas com registros físicos e outros além disso.
Saem a espalhar, por nossas casas, camas, carros e outros lugares, fios de cabelos, anéis, pulseiras, brincos, piercings, batons, brilhos, roupas e fotos.
Com isso parecem estar a demarcar um território.
O tempo passa e às vezes nos deparamos com uma dessas lembranças físicas deixadas, quase que por engano, em algum canto de nosso caminho.
E daí, quando nos deparamos com esse registro, é que volta à tona a marca ainda mais difícil de ser apagada.
Essa é aquela que não está em um objeto, mas que é tatuagem cravada na própria alma.
E um simples objeto é sim capaz de despertar lembranças.
Por um momento, ainda que efêmero, a gente volta a viver tudo o que já viveu um dia.
E, dependendo da profundidade da marca, às vezes viajamos por mais tempo e muito mais distante do que uma efemeridade.
Mas quando a viagem acaba nos deparamos com a realidade.
O anel prateado ou o batom vermelho está ali brilhando na palma da mão.
A gente não deixa de sorrir.
Mas no instante seguinte guarda o objeto no fundo de uma gaveta.
Assim como aquela história, ele também está relegado apenas à lembrança.
E assim é trancado na gaveta do passado.

Vício


Sou repórter.
E não saberia ser outra coisa.
Ainda que eu não tenha nascido sabendo isso, depois que entrei no jornalismo descobri.
Sou viciado nas histórias alheias, em conversar com as pessoas, tentar apreender delas suas histórias, seus sentimentos e depois repassar isso, pingar gota a gota no papel aquela reportagem.
Ainda sinto frio na barriga quando saio para fazer uma pauta.
Ainda tenho o tesão do primeiro dia.
Ainda consigo me emocionar (é verdade) em ler textos antigos.
Às vezes até eu mesmo estranho e me pergunto: "mas fui eu mesmo quem fez?".
Eu amo o que eu faço.
É excitante garimpar a notícia...
Mergulhar a bateia profundamente no rio das histórias das pessoas e separar muita areia bruta, da qual é possível separar uma pedra preciosa: o ouro que é a notícia...
E nós repórteres somos sim garimpeiros...
Quem é repórter sabe o que estou dizendo.
Me chamem para ir a uma festa no meio da noite que às vezes eu posso pensar duas vezes.
Mas me digam que há uma boa história para ser contada em qualquer beira de esquina a qualquer hora da madrugada que eu deixo tudo e vou lá.
Sou assim.
E assim quero continuar sendo.
Repórter que se preza não deixa de ser repórter.
Ele respira e transpira isso 24 horas por dia.
Essa é a minha vida.
É a que escolhi.
Sou feliz.

domingo, 9 de maio de 2010

Vida e amor


Tem gente que possui a capacidade de se sentir acompanhado mesmo estando sozinho.
Tem gente que se sente só mesmo estando no meio de uma multidão.
A vida tem dessas coisas inexplicáveis.
A gente vive o tempo todo correndo atrás de respostas para chegar no final da estrada e descobrir que a própria vida é um livro que não podemos decifrar.
Perdemos tanto tempo tentando entender tanta coisa que acabamos esquecendo de viver.
E assim perdemos preciosos momentos na nossa caminhada.
Esse tal de amor...
Existirá ele de fato?
Ou será uma ilusão que criaram para nos tapear?
Como explicá-lo?
É um frio na barriga? Uma vontade insaciável de estar com alguém? Um desejo de entregar a própria vida para que a outra pessoa esteja bem?
Como é isso?
E se ele é tão importante e essencial, como é que acaba?
E daí como explicar a dor rasgada no peito, o aperto sufocante na garganta e os olhos que não param de arder?
Aliás, será possível explicar como é que ele começa?
Ele nasce inexplicavelmente e sem motivo assim como segue o mesmo caminho para morrer?
Simples assim?
Você amanhece não amando, entardece amando e amanhece no dia seguinte não mais amando?
Vai saber.
Tanta gente já escreveu sobre ele e para mim até hoje ninguém conseguiu explicar nada.
E quem é na vida que nunca sofreu por causa disso que se chama amor?
Quem é que nunca imaginou que não sobreviveria ao dia seguinte sem a presença de alguém?
Isso sem contar os que de fato não sobreviveram e decidiram colocar um ponto final, por conta própria, à amargura que lhes arranhava o peito e tirava a própria vontade de respirar.
Muito estranho.
Como é que algo pode ao mesmo tempo dar a sensação de bem e fazer tão mal.
Muitos se perdem pelo caminho por conta de um tropeço numa pedra (os especialistas preferem chamar de rocha) à qual se dá o nome de amor.
Muitos caem e não conseguem mais se levantar.
Felizes são aqueles que podem se agarrar a uma nova esperança e sair do abismo em que se atiraram ou foram atirados.
Felicidade efêmera.
Lá na frente estão eles novamente a se perder e a cair por conta do (bem ou mal) dito amor.
E assim a vida vai seguindo, de braços dados com esse tal de amor.
E o mundo humano gira em torno dele.
Seria ele o motivo da nossa vida?
Ou será ele que faz a nossa vida sem sentido?
Nem me arrisco a tentar entender.
Mas o fato é que nessa madrugada tão longa e vazia as perguntas me assaltam e me fazem perder o sono.
É tudo muito estranho.
É tão estranho estar na escuridão e precisar da luz e segui-la, mas ela sempre insistindo a se afastar ao nosso toque.
É tão estranho dormir ao lado da felicidade e ela simplesmente lhe afastar.
É impossível definir se isso é sonho ou pesadelo.
Tão perto de dormir num sonho e tão perto de acordar num pesadelo.

segunda-feira, 29 de março de 2010

13 - algumas explicações


Eu tenho um 13 tatuado no braço esquerdo.
Já ouvi todo tipo de pergunta a respeito da escolha de tal número.
Já me perguntaram se é porque eu sou petista; se é porque torço para o Treze de Campina Grande (PB); se é porque eu sou fã do Zagallo; se é porque eu me considero azarado; e até se é porque sou doido mesmo.
De todas essas opções a única que pode se encaixar é a última: loucura.
Mas nem tanto.
Vou tentar explicar.
Desde o meu nascimento esse número me persegue.
Primeiro porque nasci numa sexta-feira, 13 de fevereiro de 76.
Era um ano bissexto e nasci justamente no mês que torna o ano bissexto.
A soma dos dois numerais no ano que nasci: 7 e 6, dá justamente 13.
Também nasci às 10:30, que eliminando-se os zeros fica justamente 13.
De quebra a data caiu com a lua em plenilúnio (lua-cheia).
E existem outros pontos em comum.
Daí, em 2007, numa sexta-feira 13, quando decidi que iria tatuar o 13 no braço esquerdo.
Como testemunha levei a então namorada.
Eu penso que ela duvidou da minha coragem até que o tatuador Léo fez a primeira marca de tinta preta no meu braço.
O cara quis saber da história e eu contei. Ele arregalou os olhos, ficou boquiaberto.
"É bom fazer uma tatoo com motivos, com explicações...", comentou.
Depois de pronta a tatuagem fiquei satisfeito.
Hoje já a considero pequena, se fosse fazer novamente a tornaria maior.
Pois bem, dessa maneira o 13 é a minha marca registrada.
Tem gente que quando fica sabendo dos motivos, principalmente por eu ter nascido numa sexta 13, até se benze.
Mas tudo bem, não me considero sortudo ou azarado além do normal.
E outra, não tenho nenhuma predisposição para Jason, o fatídico personagem do Sexta-Feira 13, e nem para Zagallo.

P.S. O último filme da série Sexta-Feira 13 começou a ser exibido justamente no dia 13 de fevereiro de 2008, uma sexta-feira 13.
P.S.2 Na Festa da Fantasia de 2011 fui fantasiado de... Jason! Com direito a facão, máscara e machado! Mas não se preocupem, não fiz nenhuma vítima no local.

Assiduidade

Não tenho sido tão assíduo como gostaria aqui neste espaço. Fico a imaginar se aquilo que eu for escrever vai satisfazer ao meu próprio umbigo ou se alguém mais irá se interessar pela história. De qualquer maneira, independente do resultado, tenho de escrever. Isso eu sei.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ex-cocólatra...


"Olá, meu nome é Almiro Marcos e sou viciado em Coca-Cola..." O comentário, tomando como base aqueles encontros de alcoólatras que se assumem como tais, arrancou risadas do povo que estava ao redor.

Lembro-me de uma conversa que tive há vários anos com uma saudosa amiga da minha mãe, que se chamava Alda. Educada e meiga, ela estava almoçando em casa quando minha mãe comentou que eu deveria diminuir o tanto de Coca que eu bebia. Daí ela respondeu: "Deixa o menino (eu ainda era tratado como menino), ele não fuma, ele não bebe, ele não usa drogas, então deixa ele pelo menos ter o vício da Coca".

E assim segui usando esse ensinamento durante vários anos adiante. Sempre que alguém falava que eu bebia muita Coca, eu repetia o que a Aldinha tinha dito.

E assim eu bebia Coca no café da manhã, no intervalo entre o almoço, na hora do almoço, no lanche da tarde... E era sagrada a Coca das 16 horas lá na redação. A minha colega Deire até já tava acostumada com o tssss da latinha abrindo. Daí dizia: "A Coca das 4 horas do Mirão". Para completar, bebia na hora do jantar, antes de dormir e onde quer que eu estivesse. Acho que era um vício como o do fumante. Aquele ritual me dava prazer.

Mas daí o tempo foi passando e o meu peso só aumentando, só aumentando, em parte graças a uma disfunção na tireóide, mas também reforçado pela Coca. Daí vinham as histórias de que o refrigerante mágico tinha uma concentração muito grande de açúcar, que era prejudicial à saúde e coisa e tal.

Quando entrou 2010 algumas coisas mudaram na minha vida e, de repente, me vi olhando para a latinha vermelha da Coca... Me pus a pensar se de fato aquele líquido sedutor era tão perigoso assim. "Será que ele está me ajudando a engordar", perguntei e mim mesmo. E simplesmente decidi dar um tempo na Coca.

E lá no início de janeiro parei com a danada.

Posso contar nos dedos das vezes que voltei a beber a vermelhinha. Ela foi substituída pela versão Zero ou mesmo por sucos variados.

Não sei se por essa mudança de atitude ou alguma maluquice da tireóide, mas o fato é que eu simplesmente emagreci 10 quilos.

E hoje a Coca não me faz tanta falta como fazia antes. Hoje posso comemorar e dizer que estou praticamente curado. Eu já poderia me definir como um quase ex-cocólatra... Se bem que a sedução do rótulo vermelho com o líquido borbulhante cor de caramelo escuro continua a me chamar toda vez que passo diante de uma prateleira de supermercado ou loja de conveniências...

Do futuro, não sei, mas por enquanto continuo resistindo bravamente.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Amanhecer



Tem vezes que a noite se torna dia. Simples assim. Como num abrir de olhos. É a escuridão que se faz luz. E algo fica a incomodar, como uma necessidade parada num canto do quarto pronta para lhe assaltar. Indefinida de início, ela não demora para se revelar: preciso escrever.

E assim o faço.

Não sei do fim da estrada. Mas preciso dar valor no caminho percorrido.

A essa altura da vida, quase aos 34 (do primeiro tempo, espero), a gente se pega a fazer avaliações sobre o passado. Ainda que nem tenha chegado à meia idade, passo a me apegar mais ao saudosismo do que a planejar o que virá.

Repasso às linhas o turbilhão do que já houve.

Fui nascido em Goiânia, pela falta de parteira. Mas criado no interior. E lá aprendi a ser gente.

Joguei bola na rua. Brinquei até tarde de pique-esconde. Fugi de casa para nadar em córrego cheio. Nunca me afoguei, mas apanhei pela audácia (não de morrer afogado e sim por me arriscar nas águas turvas). Subi nas laranjeiras, mexeriqueiras e mangueiras da vida. De todas as frutas provei e nelas nunca me saciei, tanto que continuo a provar o gosto de cada uma até hoje.

Discuti com amigos. Briguei com inimigos. Me arrependi em ambos os casos. Mas nem sempre pedi desculpas.

Fugi da escola algumas vezes. Mas as muitas mais vezes que dali não fugi, nem em pensamento, foram muito mais importantes.

Já montei em bezerro e cavalos. Na cabeça de menino era para fazer graça. Mas doía. Cai, levantei, sacodi a poeira e voltei a insistir. Com tanto tombo, aprendi. Fiquem eles lá e eu aqui. Não virei peão de rodeio e também não era essa a minha sina (minha mãe agradeceu).

Já dormi na igreja tentando prestar atenção na pregação do padre. Também na igreja já tive acessos de riso por causa de coisas sem noção. Em aula de catequese já abri caixa de sapatos cheia de cigarras debaixo da mesa e provoquei debandada geral, aos gritos desesperados, de irmãs e das colegas de aula. Fiquei de castigo por isso. Mas acho engraçado até hoje.

Já tive medo de caipora, mula-sem-cabeça e lobisomem. Já perdi o sono por causa de assombração.

Já senti meu sangue gelar na veia ouvindo as histórias assombradas que minha saudosa Vó Ana contava sentada no fogão-de-lenha na velha fazendinha na Gameleira (Varjão), que mais tarde se tornaria um sem-fim de soja (a fazenda, não minha vó).

Já tive medo de morrer por chupar manga depois de beber leite.

Na vida muito mais falei do que ouvi. Preciso aprender a fazer o contrário.

Nunca fumei maconha e nem usei qualquer tipo de droga ilícita.

Já tentei aprender a fumar e a beber, só para dizer que tinha algum vício. Não consegui.

Já cantei moda sertaneja até o romper da alvorada.

Já dancei até furar o solado da bota - e queimei a sola do pé no toco de cigarro por isso.

Já amanheci sentado no meio-fio ou no banco da praça conversando fiado.

Já impressionei meio mundo por conseguir acompanhar bêbados a noite toda sem colocar sequer uma gota de álcool na boca.

Já amei. Já fui amado.

Já sofri. Já fiz sofrer.

Já traí. Já fui traído.

Já cometi muitos pecados. Já perdoei e já fui perdoado.

Por todos os erros já praticados, me arrependo até hoje.

O sono de repente me bate bem no meio da testa. Um soco direto na consciência.

Não releio o que escrevi, afinal não faria sentido agora.

Simplesmente deixarei aqui, inacabado.

Como inacabada é a nossa própria vida.

Do fim?

Desse não sei e nem pretendo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

O desabafo do abstêmio

Antes de qualquer coisa é necessário esclarecer que abstêmio é o cara que não bebe álcool.

Sei que ninguém que for ler esse blog (se é que alguém anda lendo) é analfabeto, mas também não precisa ser um dicionário ambulante!

Para não me definir com essa palavra que é quase um xingamento, prefiro dizer simplesmente que não gosto de bebidas alcóolicas. Não gosto do cheiro, do sabor, da forma como elas nos deixam na hora e muito menos da forma como deixam no dia seguinte. O gosto de cabo de guarda-chuva na boca é histórico! Rsrs.

Não gosto por não gostar mesmo. Não é para fazer tipo. O álcool não me apetece. Não tenho paladar para isso. Além disso, pela falta de álcool correndo em minhas veias, nas poucas vezes que resolvo beber algo (ainda que seja uma inocente caipirinha) começo a trocar as letras rapidinho.

E é como meus amigos falam: é melhor o Almiro não beber, porque se ele já é assim normal, imagina se bebesse!

Portanto, prefiro evitar. Mas isso não quer dizer que eu nunca tenha bebido na minha vida.

Lá na minha adolescência eu me arrisquei na vida de boêmio. Tinha lá uns 15, 16 anos e meti a cara com gosto na cachaça. Nas férias em Varjão, então, a principal diversão, depois das pescarias, eram as festas nas casas de amigos regadas a álcool. Sempre começava assim: no início do mês, quando todo mundo tinha grana, começava com cerveja. Daí no final do mês, já sem recursos, íamos descambar para a Caninha 51 'carcinada' (misturada) com Coca.

E foi numa dessas aí que eu tive o maior porre da minha vida. Porre de pinga com Coca e galinhada. Imagina? O resultado não foi bom. Aliás, foi péssimo, com direito a cama rodando, vômito a madrugada inteira e ressaca inesquecível. Mas, pelo menos, aquilo me deu a certeza de que essa vida não era para mim.

Daí decidi não mais beber. E parei mesmo.

E hoje em dia eu me tornei um cara anormal.

Sei que minha situação é totalmente louvável nesses tempos de lei seca (o eterno motorista da rodada!), mas não é qualquer um que entende. Quando digo que não bebo, o pessoal que não me conhece bem já olha fazendo troça: Se não bebe, então come com farinha... Como é que uma pessoa palhaça como você não bebe?

Ué, então quer dizer que palhaço sempre anda de pileque?

Além da estranheza que causo, a situação também traz alguns inconvenientes.

Já aconteceu algumas vezes. Chego em um bar. Daí o povo começa a pedir bebidas: chope, cerveja, margarita, pinga, uísque, vodka... Quando chega em mim vou logo emendando um refrigerante, uma água ou algum suco. E sempre tem um engraçadinho: tem toddynho? traz para ele!

Rárárá! Morri de rir mas não achei graça.

Quando é de turma, ainda é mais fácil driblar a minha condição de abstêmio (que palavra horrível!). Mas se sai em casal a situação é deveras constrangedora.

Se a moça já sabe que eu não bebo mesmo, é mais fácil resolver. Daí ela não fica encanada de pedir o que quiser e nem eu de tomar Coca.
Mas se ainda não sabe... Ih, daí o caminho é um só. Eu fico enrolando, olhando o cardápio, disfarçando e deixo a mulher escolher o que quer. Daí se ela pede, sei lá, uma caipirinha, não vou poder pedir um suco de laranja, então me arrisco a pedir a mesma coisa e vou rezando para vir bem fraca, doce e com muito gelo. Assim, fazendo muita força e disfarçando a cara de quem não gosta, posso, depois de muito tempo, beber uma limonada com um toque sutil de álcool.

Mas, apesar da pouca quantidade, isso já é mais do que suficiente para me deixar uma zonzeira danada na cabeça e a constatação mais do que conveniente:

"Definitivamente não nasci para beber álcool".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Nomes

Nome é um negócio complicado. Afinal o bebê normalmente já chega ao mundo carimbado com uma denominação escolhida ao bel-prazer pelos pais. E vai saber o que se passa pela cabeça de pais e mães ao escolher o nome do pimpolho.

É para homenagear o avô? Daí aparecem os Anapolinos, Américos, Austragésilos, Pacíficos e outras definições do tipo devidamente complementados pelo NETO. E você já percebeu que os Anapolinos e Américos normalmente só são chamados por esses nomes na chamada da sala de aula? É sim. Naturalmente eles adotam o nome menos estranho do seu registro: NETO. E por aí vai, com homenagens a pais (que muitas vezes recebem de presente o nome estranho dos próprios pais e resolvem, só de sacanagem, passar o fardo de um quase xingamento para os próprios filhos), avós, tias, tios-avôs...

Uma coisa interessante seria deixar o moleque nascer e não colocar nome nenhum no dito cujo. Daí arrumava um apelido para ele. Tipo Coisinha, Zezinho, Pretinho, Branquinho, Gordinho, Zoinho, Cabecinha e outros inhos e inhas. Daí lá pelas tantas, quando o fulaninho já pudesse ter um certo nível de consciência, escolhesse o próprio nome. Isso evitaria aberrações como Carneiro de Souza e Faro ou Chevrolet da Silva Ford. Acredite se quiser, mas são nomes de pessoas reais.

Você mesmo, se for procurar na memória, vai encontrar algum conhecido com nome estranho.
Os exemplos andam por aí.

Eu mesmo, vamos analisar: ALMIRO MARCOS.

E de onde foi que minha mãe arrumou um nome desses? Ela conta que era um farmacêutico, médico, sei lá, que era uma boa pessoa, coisa e tals. Mas o fato é que saiu lá no meu registro o nome composto. Até já encontrei, nos orkuts da vida, um xará. Exatamente, um ALMIRO MARCOS e também um MARCOS ALMIRO. Quer dizer, minha mãe não é a única maluca no mundo!

Ah! Ainda, no meu caso, poderia ser bem pior. Pois eu iria me chamar Mém de Sá. Isso mesmo, o nome do terceiro governador-geral do Brasil, português que por aqui esteve lá pelo século 16.
E minha irmã? Batizada Maria Emília (em homenagem aos dois primeiros nomes das avós) deveria se chamar Mircileigue. Ahnnnn? Nesse caso, minha mãe nunca conseguiu achar explicação. Por mais que eu tenha procurado definições em plantas, insetos e estrelas, não consegui homônimo.

A motivação para escrever sobre nome veio da Camila Blumenschein, colega jornalista aqui da redação do Pop. Dia destes ela, que se senta bem na minha frente, perguntou-me, na mais cândida naturalidade: "Almiro, você acha seu nome estranho?". Eu fiz cara de desentendido, disse que não, mas fiquei encasquetado com aquilo. Fiquei uns 15 minutos a balciar meu nome, até me acostumar de novo.

Depois do ocorrido, fui recordar alguns acontecimentos para reconhecer que ter esse nome é mesmo complicado. Nas entrevistas a fazer pelo telefone, ou quando atendo alguma chamada aqui na redação, eu falo o meu nome para as pessoas. Daí elas entendem o que acham mais fácil. Então me chamam de ALMIR, se prestam atenção na primeira parte do nome, RAMIRO, se prestam atenção na parte final, e até de ALTAMIRO, quando não prestam atenção em nada.
Como explicar é pior, eu fico calado e deixo a pessoa enganada.

Já perdi a conta das vezes que já atendi o telefone para um colega de redação, ALTAMIR, como se eu fosse o próprio. Mas não soube ainda se ele já recebeu alguma chamada que era para mim.
No convívio familiar mais próximo (mãe e irmã), apenas minha mãe me chama de ALMIRO MARCOS, já minha irmã só me chama pelo nome composto quando está p. da vida com algo que eu tenha feito. Ih! Perdi a conta das vezes, quando era criancinha pequena lá em Varjão, de ouvir aquela voz irada ecoar pelos quintais da vida. "ALMIRO MARCOOOOOS! Eu te mato, seu moleque!". Isso tudo só porque eu tinha quebrado algum vaso ou sujado toda a casa. É claro que a ameaça fraterna era mera força de expressão, tanto que estou aqui ainda, vivinho da silva.

As pessoas quando me conhecem, normalmente preferem me chamar pelo segundo nome: MARCOS. Afinal, é mais fácil gravar. Até começam me chamando assim, mas não conseguem continuar. Daí começam a me chamar por um diminutivo do primeiro nome: MIRO. Mas logo acabam ficando com o basicão mesmo: ALMIRO.

No problem, já estou conformado mesmo!

E sei que ainda carregarei por muitos anos a velha sina.

- Alô, quem está falando?
- É o Almiro.
- Almir?
- Não, Almiro.
- Ramiro?
- Não, A L M I R O.
- Altamiro?

Antes que a coisa piore e descambe para Valdomiro ou Claudiomiro eu atravesso a parte dos nomes e vou logo perguntando o que a pessoa quer.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Sem palavra

É. De fato sou um cara sem palavra. Mas não que me faltem palavras para escrever ou falar. O que me falta é a danada da palavra com sentido de compromisso. Quando abri esse blog vim com uma baboseira de atualizá-lo constantemente (olhe lá no primeiro post) e não cumpri o prometido. Se bem que eu não espero mesmo que muita gente vá perder tempo para vir aqui me ler. De qualquer maneira estou de volta. E dessa vez, espero, tentarei ser mais constante.