segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Verdade


E tudo talvez não passe de ficção.
Ainda, quem sabe, seja lá mera ilusão.
Onde andará a verdade?
Procure-a pelo caminho.
O caminho está vazio.
Nem sombra há.
E o que dizer da dita verdade?
Onde estará?
Não temos nem como dizer se andará de braços dados conosco.
Talvez estejamos sozinhos na estrada.
Ou nem na estrada a gente mesmo estará.
Estrada solitária então.
E essa tal verdade?
Haverá?
Talvez...
Mas, afinal, valerá contar a verdade de quem?
A sua?
A minha?
Ou a verdade do mundo?
Não tenho as respostas.
E nem sei dizer, ao certo, se essa senhora existe de fato.
Ou existirá e apenas não quer aparecer por aqui?
Sei lá.

Ponto de equilíbrio


Seguia ele estrada afora, na bagagem às costas carregava muitas histórias e muito mais decepções do que sonhos.
Mas isso não chegava a representar peso.
A cabeça ia cada vez mais livre, leve e não se ancorava a portos de pensamentos específicos.
Fugia da realidade de um certo tempo vivido.
Descartava, à beira do caminho, as recordações disso.
Descartes sem opção de reciclagem.
Meros descartes, sementes secas sem força para germinar.
Seguia ele.
Simplesmente seguia.
Mas logo algo mudaria.
Coisas da vida, do acaso, do destino.
Talvez tenha sido em uma curva do caminho ou quem sabe mesmo em uma reta - não é possível determinar, mas o fato é que lhe atravessou o destino uma ninfa.
Ser sem corpo, etéreo, mas isso não quer dizer que fosse um ser sem essência.
Era a essência em si mesma.
Bela no mais profundo âmago do seu ser.
Primeiro lhe atraiu a atenção.
O próximo passo foi despertar o encantamento.
Na sequência capturou, do viajante, o pensamento.
E fez prisioneiro vigiado a corrente curta, a quem só era permitido passear por perto, passar um tempo distante, mas sempre precisando retornar a ela.
O tempo passou lentamente.
Não atropelou.
Nem viajante e nem ninfa se atropelaram.
Deram tempo ao tempo e o tempo agiu.
Ainda que continuassem sendo etéreos um pro outro, algo mais acabaria por ligá-los ao cotidiano de um e outro.
De repente, não mais do que de repente, o destino os aproximou.
Sem mandar aviso, sinal ou dar explicação, o acaso os juntaria quase sem querer.
Numa noite qualquer, perdida entre nuvens cinzas-chumbo que se desmanchavam em água farta sobre o Cerrado, a voz de uma encontrou o ouvido de outro.
Macia, inebriante e sedutora música para os ouvidos, as palavras na medida certa e as respostas esperadas.
Eles se acariciaram ao longe.
Se reconheceram.
Se reconfortaram.
Se aconchegaram.
Minutos passaram tão rápido como breves instantes fugidios.
Quisera os relógios pudessem ser estacionados para perpetuar aqueles momentos.
As nuvens cor de chumbo à frente dele se fizeram coloridas.
As gotas caindo se fizeram brilhantes, tal qual chuva de prata.
O silêncio de um telefone sendo desligado não foi suficiente para afastá-los.
Dormiram com os lábios sorrindo, sem ter como fugir do pensamento um do outro.
Veio o dia seguinte e as lembranças se fizeram ainda mais vivas, presentes.
Pensamentos voam e se abraçam no ar, ao mesmo instante, em todo lugar.
O hábito de se falarem e de se ouvirem os uniu ainda mais.
Houve a expectativa daquele momento para chamar um número e ouvir o alô da voz que acalma e atrai do outro lado.
Por mais uma noite foram um pro outro o ombro, o arrimo, o PONTO DE EQUILÍBRIO.
O dia seguinte foi marcado por lembranças, sensações, arrepios, frios na barriga e desejos.
Desejo de mais voz.
Desejo de presença.
E os dois acabaram se encontrando meio perdidos.
O que seria dali para a frente?
Nenhum dos dois saberia dizer.
Não havia ainda a resposta.
Afinal, como já disse Shakespeare, "há mais mistérios entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia".
Que ambos então aceitem apenas viver e deixar o tempo ver, ver no que vai dar.
Lá pelo meio da tarde uma dúvida o assaltou: outras noites da presença daquela doce voz viriam?
Isso ainda não é possível dizer, pois a noite seguinte ainda não chegou.
Da parte dele a presença dela é cada vez maior.
Ele sonha acordado com sua voz.
Terá um dia a presença física para dela também se recordar?
Só o tempo dirá.



Música incidental: Ponto de Equilíbrio (Hugo Penna).

"As vezes sinto as pernas bambas,
Sinto me faltar o ar,
É ofegante, o coração parece que vai parar,
Minha visão que te procura em meio a tanta gente,
Cada motivo é um motivo pra eu te procurar,
Inseguranças, incertezas, querem me barrar,
E a cada passo é um tropeço eu to indo pra guerra,
É confusão de sentimentos no meu coração,
Eu travo em sua frente,
Sinto gelo em minhas mãos,
E mesmo assim tive coragem e vou te dizer,

Meu ponto de equilíbrio,
O meu comando é você,
É tudo que eu preciso,
A força que me faz viver,
Então devolva de uma vez o que levou de mim.

Meu ponto de equílibrio
O meu comando é você,
É tudo que eu preciso,
A força que me faz viver,
Amor perfeito tem começo, meio e não tem fim."

terça-feira, 22 de novembro de 2011

The End?



E segue a vida na penumbra.
Vai em frente fingindo que está tudo bem.
Segue falando muito às paredes.
Disputa quedas-de-braço veladas.
Permanece o silêncio.
Permanece a ausência.
O tempo passa.
Não tem dó.
Mas também não tem como parar.
E giramundo.
O mundo gira.
E nem tudo o que já foi continua sendo.
Mas aquilo que se tenta disfarçar para o mundo, segue evidente dentro de si mesma.
Acabará?
Não é possível dizer, na vida real não existem avisos de final de filme: The End.

domingo, 6 de novembro de 2011

À boca livre



Falamos tanto da boca pra fora.
Você é assim.
Porque também não eu?
Se acha que serve só para mim, respire fundo e admita que também vale para você.
Palavras jogadas ao léu, ao vento.
Mais ou menos, todos somos especialistas nisso.
Confirmamos o fim aos quatro ventos, mas intimamente sabemos ainda estar longe o ponto final.
O máximo que conseguimos é um ponto e vírgula.
Mas, quase sempre, temos de conviver com as reticências...
E as histórias continuam mal resolvidas, mal acabadas.
E continuam sendo escritas, se não mais a quatro mãos juntas, pelo menos de duas em duas mãos.
Apesar do tempo e da distância os dois seres ainda permanecem próximos, se não nos corpos, pelo menos no pensamento.
As lembranças, volta e meia, se tornam assaltantes cruéis e atacam de maneira inesperada.
Roubam a calma, a paz e deixam como herança um vazio abismo no peito.
E cada qual insiste em continuar sozinho a dar cabeçadas no escuro.
Alguém aprenderá?
Só o tempo dirá.

P.S. Somos contraditórios por natureza.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Carta a você que busca por respostas



Afinal onde andarão as respostas?
Qual é o motivo que te leva a, insistentemente, procurar por notícias de alguém que pediu que fosse embora e fechasse a porta?
Se não tem mais nada a ver por quê se incomodar tanto com quem anda ou o que faz a outra pessoa?
Por quê?
Já se perguntou?
Se não tinha tanta certeza sobre o que desejava de fato, então por quê insistiu em estabelecer o distanciamento?
E agora que a distância se torna cada vez maior no tempo e no espaço é que você começa a se sentir incomodada?
Se era e ainda é tão importante para você, por quê insistiu na ausência?
Se a vida é feita de escolhas, por quê você insiste naquelas erradas?
Nem tudo aquilo que se perde é possível recuperar.
Você deveria pensar nisso.
E pensar bem.
O tempo pode ser um aliado, assim como pode ser o pior inimigo.
Cabe a você saber usá-lo.
E você, mais de uma vez, já deu mostras de que não sabe ser amiga do tempo.
Os dias se sucedem.
Vão se seguindo.
E algumas coisas não mudam.
O orgulho prevalece, mas ainda assim as lembranças não te abandonam.
Ainda sente falta.
Ainda pensa muito.
Ainda não conseguiu esquecer.
Ainda não conseguiu achar ninguém à altura daquele.
Deixará de sentir?
Parará de pensar?
Esquecerá?
Achará?
Afinal onde andarão tantas respostas?
Procure-as aí do lado.
Elas estão contigo mesma!
Mas sinto informar que talvez elas não irão dizer aquilo que você insiste em demonstrar para o mundo e a falar da boca pra fora.

Música incidental: Ali (Skank)

"Ela andou e eu fiquei ali
Ou será que fui eu que dali mudei
Com uns passos mudos
De uma reticência?"

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Esquecimento


O amor tem lá suas armadilhas.
Encontros e desencontros na vida.
Feridas recentes que parecem não se cicatrizar.
E a pergunta sempre paira no ar: conseguirei esquecer?
Não é um processo rápido, indolor e que surge como passe de mágica do dia pra noite.
É lento.
Mas vem.
O esquecimento vem em doses homeopáticas.
Para sorte de uns e azar de outros, normalmente é ação irreversível.
O tempo é a carruagem do esquecimento.
Conforme vai acelerando, o esquecimento mais se aproxima do destino.
E ele chega aos poucos.
Primeiro passa a borracha nas coisas mais próximas e físicas.
Apaga o cheiro do corpo, do pescoço, dos cabelos.
Apaga o som da voz e o ruído da gargalhada.
Apaga o brilho do olhar e mesmo a cor dos olhos.
Apaga o gosto do beijo (seria bom?) e o calor do toque das mãos ou da pele tocada.
O apagador depois começa a agir nas lembranças.
A pessoa outrora tão presente no cotidiano e no pensamento, de repente vai se afastando da realidade.
O desenho de traços e cores tão vivas vai se tornando um arremedo do que já foi e logo não passará de um tênue rabisco leve numa folha amassada.
E o destino das folhas amassadas é um só: o lixo.
Nesse caso, o lixo da memória.
Um dia talvez reapareça alguma lembrança perdida.
Você olha para aquilo e sorri, intrigado: será que um dia vivi mesmo isso de fato?
Na dúvida, passa a pergunta sem resposta adiante e segue em frente naquilo que estava fazendo.
Afinal, na vida, apenas as coisas que são importantes de fato permanecem.
E o resto?
É resto.