terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cinzas

O braseiro há muito permanecia intocado. O aspecto era de tranquilidade e paz. Não havia nenhum crepitar ou mesmo sinal de fumaça.
O tempo passara. Bastante.
O furor das chamas era apenas lembrança.
E a memória do calor não é suficiente para afastar o frio. Nunca foi.
O fogo consumira tudo o que foi possível.
O homem se aproximou e observou aquele ambiente de calmaria.
Dali ainda sairia alguma coisa?
Ele pensou que não.
E resolveu remexer as cinzas.
Uma centelha permanecia intacta lá embaixo.
Ameaçou reviver.
"Mas será?"
E ele resolveu alimentar a faísca quase esquecida no tempo passado.
Brilhou, esquentou, fulgurou.
Saltou à vida e reacendeu.
Agora crepita e consome novamente, sem pressa, mas com calor tamanho que chega a incomodar.
Ele se senta a observar o fogo vivo.
Sem sequer evocar a alegoria da fênix, ele carrega agora consigo a certeza de que algumas cinzas não devem ser remexidas.

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