quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Confabulações do além


Os fantasmas emergiram todos de uma só vez da penumbra e se reuniram na sala do casarão.
Resolveram abandonar o status de sepultados ao qual tinham sido relegados.
Arrastaram correntes e cadeiras, levantaram poeira, trouxeram consigo vendavais.
Folhas secas e amareladas pelo tempo redemoinharam pelo ar.
Memórias foram remexidas, retiradas de gavetas profundas e expostas nas paredes, nuas e cruas.
E os fantasmas passaram a confabular.
E os fantasmas arrancaram dos bolsos mapas e traçaram limites e territórios próprios.
E os fantasmas discutiram passado e presente.
E os fantasmas tentaram prever o futuro.
E os fantasmas, todos que já se imaginavam exorcizados (em tese), passaram a querer se materializar e interferir (na realidade prática).
A noite fria, seca, escura e de nuvens segue se arrastando desejando demorar a encontrar a alvorada.
E os fantasmas continuam sentados na sala.
Alguma hora terão de se levantar e voltar para o escuro reino do esquecimento.
Algum deles insistirá em continuar a assombrar o casarão?
Não se sabe.
Mas todos eles teimam não apenas em assombrar e sim tornar à vida real.
Enquanto tudo é incerto, deixe que eles pelejem nas suas confabulações.

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