segunda-feira, 6 de setembro de 2010

03:03


Queria alguma coisa inteligente e sensata para dizer após as 3 horas da madrugada de um dia 7 de setembro.
Mas pareço vazio.
Aliás, fazendo uma busca, não me vejo assim tão vazio.
Dentro do próprio ser encontro perguntas e mais perguntas em busca de respostas.
Mas não sei se essas perguntas ávidas conseguirão se acasalar com quaisquer respostas.
Quanto mais analiso, à luz racional e silenciosa da madrugada, menos consigo entender certas situações.
Se fosse um tabuleiro de jogo qualquer, as peças não estariam seguindo o roteiro permitido e planejado.
Elas teriam quebrado todas as regras e mergulhado no mais perfeito caos.
Não entendo.
E não entender sempre me deixou aflito.
E assim, alta madrugada, fico a encarar a aflição na tela brilhante do monitor.
Madrugadas podem ser boas conselheiras.
Mas essa madrugada consegue ser muda e irritantemente fria, apesar de todo o calor seco que sopra lá de fora.
A mente vagueia sem destino e vai encontrar, em pensamento, tanta gente que já dorme.
Gente bem próxima, gente bem distante, gente há muito quase esquecida, gente quase desconhecida.
Passado distante. Passado recente. Ontem, apenas, também.
Silêncio!
Até o tiquetaque do relógio de pulso consegue ser ouvido ao longe tamanho o vazio.
Cães não ladram.
Galos não cantam.
A cidade parece mergulhada em transe.
O tempo se arrasta sem pressa de trazer algum alívio aos perdidos na madrugada.
O sono daqui fugiu pela janela aberta e foi mergulhar em mentes menos despertas.
Acordado permaneço.
Acordado não há sonho.
Mas, paradoxo, acordado pode haver pesadelo.
Finalmente algum ruído mostra que o mundo não está paralisado.
O vento sopra nas folhas de alguma árvore.
E traz para dentro algo mais além de um calor descrente.
O vento refresca a pele.
Mas o interior ainda é incandescente em chama viva.

P.S. Apesar de não ser inverno e de não chover, a música pode até servir ao momento.

No inverno fica tarde mais cedo

"Escuridão
noite liquefeita
tudo toma forma
do corpo que se deita
na escuridão
escuridão
nenhum olhar aceita
tudo se transforma
numa cama desfeita
na escuridão
escuridão
hora da colheita
pra quem semeou vento
numa cama desfeita
na escuridão
um corpo que se deita
um corpo em tempestade
agora já é tarde
solidão
hora da colheita
pra quem semeou o vento
num corpo que se deita
na solidão
de uma cama desfeita
um corpo em tempestade
agora já é tarde
no inverno fica tarde mais cedo
só depois de perder você descobre que era um jogo
um jogo que não acaba nunca, nunca acaba empatado
se foi um jogo, você ganhou: eu perdi a direção
se foi um sonho, se foi o céu, eu não sei
eu que não sei perder, perdi o sono
na escuridão, na escuridão"


Engenheiros do Hawaii

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