terça-feira, 1 de novembro de 2011

Esquecimento


O amor tem lá suas armadilhas.
Encontros e desencontros na vida.
Feridas recentes que parecem não se cicatrizar.
E a pergunta sempre paira no ar: conseguirei esquecer?
Não é um processo rápido, indolor e que surge como passe de mágica do dia pra noite.
É lento.
Mas vem.
O esquecimento vem em doses homeopáticas.
Para sorte de uns e azar de outros, normalmente é ação irreversível.
O tempo é a carruagem do esquecimento.
Conforme vai acelerando, o esquecimento mais se aproxima do destino.
E ele chega aos poucos.
Primeiro passa a borracha nas coisas mais próximas e físicas.
Apaga o cheiro do corpo, do pescoço, dos cabelos.
Apaga o som da voz e o ruído da gargalhada.
Apaga o brilho do olhar e mesmo a cor dos olhos.
Apaga o gosto do beijo (seria bom?) e o calor do toque das mãos ou da pele tocada.
O apagador depois começa a agir nas lembranças.
A pessoa outrora tão presente no cotidiano e no pensamento, de repente vai se afastando da realidade.
O desenho de traços e cores tão vivas vai se tornando um arremedo do que já foi e logo não passará de um tênue rabisco leve numa folha amassada.
E o destino das folhas amassadas é um só: o lixo.
Nesse caso, o lixo da memória.
Um dia talvez reapareça alguma lembrança perdida.
Você olha para aquilo e sorri, intrigado: será que um dia vivi mesmo isso de fato?
Na dúvida, passa a pergunta sem resposta adiante e segue em frente naquilo que estava fazendo.
Afinal, na vida, apenas as coisas que são importantes de fato permanecem.
E o resto?
É resto.

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