segunda-feira, 4 de junho de 2012

O encontro

A confrontação descarnada com a realidade nem sempre ocorre sem impressões desmentidas, verdades imaginadas atiradas ao solo como frágeis paredes de castelos de areia no abraço da onda. Certezas outrora tão certas podem se vestir em longos mantos de interrogações plenas. A pessoa que demonstrava ser, pode se revelar mero personagem de frágil ficção, arremedo de si mesma ou de uma terceira figura, talvez inventada, imaginária. Todavia, eis que assim dessa vez não foi. Ela estava bem ali do lado como representação fiel daquilo que demonstrava ser e da impressão que passava. Movia-se com graça, parecia ter os movimentos calculados como num balé marcado com antecedência. Mas, incrivelmente, era natural. Falava, sorria candidamente e seu olhar, sem medo de ser tímido, de vez em quando brilhava. Era a cópia perfeita de si mesma (aquela do mundo virtual) e saltava aos olhos com os mesmos traços com os quais, inesperadamente, visitava os sonhos dele. Por mais que saiba interpretar, ela ali não interpretava e se fosse personagem, seria personagem representando ela própria. A sua presença traduzia-se, se preciso fosse, como metalinguagem. Ela era ela mesma representando para ele a sua própria história. Era aquela mesma que escrevia e que se descrevia. A mesma que se abria sem medos, se desnudava através das letras e que, justamente por assim ser, mais misteriosa se tornava. Linhas, nada tortas, e entrelinhas, expostas. Ele piscava, desviava o olhar e, disfarçadamente, se beliscava para saber se aquele novamente não seria um sonho. Dessa vez não foi. Era a realidade mais interessante ainda do que as coisas virtuais. E, justamente por tão interessante ser, as horas se passaram como se frações de segundos fossem. A tarde caiu com um cheiro tênue de terra molhada. O sol foi embora clarear terras cada vez mais a oeste. "Precisamos ir", a voz dela decretou parte da quebra de um encanto. Quando ela partiu, graciosamente deixou atrás de si um rastro de sensações. Simples, suave, agradável e ímpar como uma noite de lua cheia em junho... Lua, aliás, que naquele mesmo instante começava a dar o seu tom no horizonte à leste. Por um novo instante a imagem daquele rosto perpassou sua lembrança. E um arrepio bom arranhou o seu estômago exatamente quando ele refletia sobre superfícies rasas e mergulhos profundos. "Ah, se me fosse permitido mergulhar..." Ele sorriu, respirou longamente e seguiu adiante enquanto o luar acariava o seu rosto. Eis que assim foi.

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